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O ProTools e os home studios, por Sergio Izecksohn


ProTools 24 Mix e superfície de controle

Com essa profusão de placas e programas de gravação que vemos hoje em dia, produtores e músicos profissionais e amadores nem sempre vêm conseguindo acompanhar tantos lançamentos e inovações.

E uma escolha imprecisa do sistema de gravação de um estúdio pode desequilibrar um bom orçamento.

É bom termos tantas opções e o mais importante, antes de escolher, é conhecermos tanto as finalidades dos recursos do hardware e do software e as relacionarmos com nosso próprio caso quanto o contexto em que essas transformações acontecem, para ficarmos atentos às possibilidades do futuro.

Nos últimos anos, os recursos e as sonoridades das interfaces de áudio e dos programas de custo proporcionalmente baixo se nivelaram aos dos concorrentes dez a cem vezes mais caros.

Desde então, uma imensa massa de músicos e amantes da música passou a criar, gravar discos e divulgar seu trabalho para o mundo como se tivessem passado por uma grande gravadora.

Os produtores de música eletrônica, com recursos quase infinitos, desenvolvem todas as suas colagens sonoras e se proliferam num mar de tendências e estilos.

Surgiu uma onda de restauradores de gravações antigas quase a ponto de cada escritório ou esquina ter o seu. Tudo isto sem sair de casa, operando programas de computador, com mais recursos que uma grande gravadora tinha há tão poucos anos...

Na virada dos anos 80 para os 90, as matrizes dos CDs comerciais eram produzidas em fitas de rolo nos grandes estúdios.

Na mesma época, o sistema ProTools, da canadense Digidesign, era pioneiro na gravação em HD administrada por software.

E no tempo dos PCs 286 rodando DOS (quem se lembra?), o ProTools só rodava em computadores Macintosh.

Os micros mais usados pelos músicos na época eram o Atari ST e o Commodore Amiga, mas só para seqüenciamento MIDI e edição de partituras.

Daí em diante, o Mac floresceu no meio musical e do áudio, principalmente porque sua evolução foi acompanhada pelo desenvolvimento do ProTools.

O Windows 3.1 começou a trazer o PC para a cena musical e até a Digidesign lançou produtos para ele, como o Session 8 e a Audiomedia III, que eram muito mais limitados que o ProTools da época.

O Windows 95 trouxe muitas novidades ao mercado, como a migração para o PC dos programas Cubase e Logic (nativos do Atari que tinham migrado para o Mac) e a evolução dos recursos de áudio do já então popular Cakewalk.

As placas de som da época ainda eram bastante precárias, com conversores e conectores medíocres.

Outras interfaces eram bastante caras e a compatibilidade era um problema recorrente.

Interface Echo Layla24, para PC e Mac

No final da década de 90, contudo, o cenário mudou radicalmente.

Os conversores caíram de preço e surgiram interfaces de áudio poderosas e baratas, como as pioneiras Echo Layla e Gina, a MOTU 2408 e as M-Audio Delta, compatíveis com inúmeros programas de PC e Mac, que por sua vez evoluíram e se multiplicaram.

Surgem os plug ins com a tecnologia DirectX, os programinhas acessórios que vêm substituindo os processadores de efeitos “físicos”, que rodam indistintamente sobre programas de gravação e edição de áudio como Cakewalk, Logic, Samplitude, Cool Edit, Saw Plus, Sound Forge.

A palavra chave: compatibilidade.

Poder gravar, editar, mixar, masterizar e ainda seqüenciar sintetizadores MIDI tudo num só programa, ou realizar cada etapa num programa diferente, tudo na placa ou interface da preferência do usuário.

No mesmo período, a explosão da Internet e dos arquivos MP3 tornou inevitável uma gigantesca proliferação de estúdios caseiros de pequeno ou médio porte.

Só que, desta vez, produzindo também para as paradas de sucesso.

Enquanto isso, o ProTools evoluiu bastante também, sempre na vanguarda, chegando ao atual modelo ProTools 24 Mix e à versão 5.1.

É um dos melhores sistemas de gravação do mundo e, sem dúvida, o mais popular entre os que se baseiam em computador para grandes estúdios.

O primeiro sucesso totalmente gravado em hard disk (sem fita) foi feito em um ProTools 24.

Foi “La Vida Loca”, de Ricky Martin.

O ProTools suporta processamento de áudio em 24 bits e mixagem surround 5.1.

Uma configuração completa suporta rodar um bocado de plug-ins de sua arquitetura TDM no próprio hardware da Digidesign, com seus chips DSP, poupando o computador durante a mixagem e o processamento de efeitos.

O processamento nos DSP (digital signal processor) permite ao ProTools rodar tanto em Macintosh G3 quanto no Pentium rodando Windows NT/2000.

Embora seja verdade que costuma rodar com mais facilidade no Mac, já que tem uma grande quantidade de incompatibilidades com peças feitas para PCs.

Por exemplo, ele não trabalha com processadores AMD Athlon ou Duron, placas-mãe ASUS e alguns chipsets da própria Intel.

Numa máquina corretamente configurada, o ProTools 24 (de 24 bits, já que grava em 48 pistas) tem bastante robustez e agilidade para qualquer gravação, edição ou mixagem de áudio.

Suas interfaces disponibilizam força suficiente para a operação dos fantásticos recursos do programa e dos plug ins TDM. Incríveis superfícies de controle, como a ProControl e a Control 24, têm sido lançadas.

Já que fazer tudo com o mouse tira um bocado da agilidade e do conforto em tantas operações possíveis, essas superfícies de controle são capazes de abrir os plug ins e controlar as funções do ProTools 24 com o formato de uma boa mesa de som, incluindo aí diversos controles especiais e pré-amplificadores da melhor qualidade.

Superfície de controle ProControl para o ProTools 24

Uma configuração completa do ProTools 24 é um investimento que alcança a casa dos 30 a 40 mil dólares. É claro que, excetuando-se os diletantes de maior poder aquisitivo, o usuário tem que ter clientela para repor este investimento em tempo hábil, antes que se torne obsoleto e seja substituído por uma versão ainda mais completa e competitiva para o seu mercado. É aí que está a maior virtude do ProTools 24 para o mercado dos estúdios maiores e que é o seu maior defeito para os home studios: ele custa caro, bem caro.

Superfície de controle Control24 para o ProTools24, com 16 pré amplificadores Focusrite

De olho no emergente mercado dos estúdios médios e pequenos, já então disputado por dezenas de fabricantes de programas e placas de som, a Digidesign lançou então a interface Digi001 com uma versão especial do programa, chamada ProTools LE, na mesma faixa de preço das concorrentes Layla, Mona, Delta 1010 e MOTU 2408, ou seja, em torno dos mil dólares no mercado norte-americano.

É inegável a força mercadológica da marca ProTools, e a possibilidade de se usar um ProTools de preço acessível num home studio tem mexido com a cabeça dos novos produtores musicais.

Só que há importantes diferenças entre a versão LE e a versão 24 Mix do Pro Tools, como também há grandes diferenças entre o sistema Digi001/ProTools LE e os sistemas compostos pelas interfaces concorrentes e os inúmeros programas compatíveis com elas.

Em relação ao irmão maior, o ProTools LE não baseia todo seu processamento nos DSP das interfaces Digidesign, o que acaba exigindo um computador ainda mais robusto e rápido.

Novamente, o Mac G4 leva vantagem sobre o Pentium, embora este também rode o programa, desde que bem configurado.

Com isso, o processamento não pode ser feito pelos plug ins TDM, reduzindo a compatibilidade com estúdios maiores que usam a outra versão.

O ProTools LE roda os plug ins da tecnologia RTAS.

Se comparado aos programas que rodam plug ins DirectX, o ProTools LE e sua interface Digi001 sofrem da pequena compatibilidade com eles.

Primeiro porque não aceitam a tecnologia DirectX.

Também porque a maioria dos programas concorrentes só consegue (quando consegue) usar dois canais da Digi001, limitando extremamente a sua operação. O usuário fica sem a opção de experimentar os recursos de outros programas.

Hoje, entre os estúdios menores, vemos claramente duas tendências. De um lado, o peso da marca e o fortíssimo marketing da Digidesign, em nível mundial, buscando a hegemonia do sistema Digi001/ProTools LE.

De outro lado, uma crescente lista de companhias novas e antigas produzindo interfaces de áudio baratas, porém extremamente versáteis no que toca à compatibilidade com PCs e programas, e com excelente som, além da variedade de opções de conexões, para todas as necessidades.

Elas rodam com inúmeros programas que acabaram ficando muito parecidos com o ProTools.

Esses programas, por sua vez, rodam com os mesmos plug ins, só que na versão DirectX. Essas placas trazem recursos como conversores de áudio AD e DA de ótima qualidade de 24 bits e taxas de amostragem de até 96 ou 48 kHz, conectores analógicos e/ou digitais em quantidades diversas, possibilidade de uso de duas ou mais placas, somando seus canais de entrada e saída de áudio, sincronização ADAT, word clock, MIDI e até pré-amplificadores e phantom power para se conectar qualquer microfone.

O programa SONAR, da Cakewalk, roda em PC

Há muitas fábricas e modelos, dentre os quais a Aark24 e a Direct Pro 24/96 da Aardvark, a CardDeluxe da Digital Audio Labs, a Layla24, a Mona, a Gina24 e a Mia da Echo, a Dakota, a Montana e a WaveCenter da Frontier Design, a 2408 e a 828 da Mark of the Unicorn, a Delta 1010, a Delta 66 e a Delta 44 da M-Audio, a Prodif 96 Pro e a Siena da SEK’D, o sistema formado por STUDI/O + AUDI/O AD/24, DA/24 e Modular/8 da Sonorus, a EWS 88 MT e a EWS 88 D da Terratec e a Yamaha DSP Factory.

Placa Dakota, da Frontier Design, com 16 canais digitais

Os programas que fazem gravação, edição e mixagem são,entre outros, o Sonar da Cakewalk, o Samplitude da SEK’D, o Cubase da Steinberg, o Logic da Emagic, o Vegas da Sonic Foundry, o Cool Edit da Syntrillium e o SAW da IQS. Muitos desses fabricantes podem ser visitados na Internet através da página “Links” do site <www.homestudio.com.br>.

Interface Echo Gina24

Além de suportarem todos esses programas, muitas das interfaces citadas acima rodam o GigaSampler e o GigaStudio da Nemesys, programas de edição de loops e produção de música eletrônica como o ACID da Sonic Foundry, conversores de MP3 e diversos programas de edição de áudio, masterização, seqüenciadores MIDI e queimadores de CD.

A questão que se coloca é a opção, para um pequeno estúdio, entre um sistema fechado, com “um programa para uma placa e uma placa para um programa” e um sistema aberto, em que o usuário tem mais liberdade de escolha. Pode experimentar diversos programas concorrentes, bastando instalá-los, sem ter que substituir o seu hardware a cada mudança.

A placa de uma marca, o programa de gravação de outra, os plug ins de outras, todos rodando sem problemas, parecem combinar mais com as necessidades de compatibilidade e adequação ao caso específico de cada usuário de computadores de hoje em dia.

Publicado na Revista Backstage em 2001

 

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